Em entrevista exclusiva ao Derby, Xavier Costa explica por que aceitou o convite da Juventude Ouriense e quais os objetivos dos azuis para a próxima temporada. O reforço da equipa, a necessidade de consolidar uma mentalidade vencedora, o exemplo do SC Ferreira de Zêzere e as bases que podem lançar o clube na rota da elite nacional, sem esquecer as experiências internacionais nos Emirados Árabes Unidos e no Luxemburgo, antes de ‘aterrar’ no Caneiro, onde esperar criar uma equipa agressiva, de olhos postos na baliza adversária e capaz de entrar para ganhar em todos os jogos.

 

Entrevista Derby com… Xavier Costa

 

Derby – O que o levou a aceitar o desafio de treinar a Juventude Ouriense?
Xavier Costa – Apesar de terem surgido algumas abordagens para voltar a treinar no estrangeiro, já tinha decidido que esta época ficaria por Portugal, por motivos familiares e profissionais. Através do João Lino surgiu o convite para conhecer o projeto da Juventude Ouriense, aquilo que já estava feito e o que se pretendia fazer e foi fácil chegar a entendimento. É um desafio que me permite manter motivado e sentir que estou a ajudar no crescimento do projeto.

 

Derby – Já orientou a equipa na Taça Ourém, já garantiu reforços e tem o plantel praticamente definido. O que podemos esperar da Juventude Ouriense na próxima época? Xavier Costa – A Juventude Ouriense entrará em todo e qualquer jogo da próxima época com a ambição de conseguir a vitória. Não sou prepotente ao ponto de dizer que o faremos sempre ou que se trata de uma tarefa acessível, mas é esse o meu objetivo com o grupo de trabalho que tenho à disposição. Fazê-los ver o Futsal de uma forma diferente e perceber que a este nível dificilmente um adversário terá capacidade de criar um problema que seja de impossível resolução. Cabe-nos ter a capacidade de o interpretar e de ter ao nosso dispor as ferramentas táticas para o resolver. Jogar de olhos nos olhos e no fim que ganhe o melhor. Se nos ganharem por competência própria saberemos reconhecê-lo, se nos ganharem por nossa incompetência, saberemos trabalhar para melhorar.

 

Derby – Contratou dois dos melhores guarda-redes do distrito. É um sinal claro de que a Juventude Ouriense pode ser candidato ao título e à subida de divisão?
Xavier Costa – O Miguel e o Azeitona são exemplo perfeito daquilo que queremos para a Juventude Ouriense, tal como os já anunciados Diogo Graça, Pedro Capitão e David Reis. São jogadores de qualidade, ambiciosos e com margem de progressão. O Miguel e o Azeitona, em conjunto com o Tomás, compõem um trio de guarda-redes muito interessante, que vai evoluir sob o comando do Nuno Malhoa, e que me deixam totalmente descansado no que à baliza diz respeito. Apontar a títulos ou candidaturas, é claramente prematuro e seria pouco responsável da minha parte, mas uma coisa é certa, como referi anteriormente entraremos em todos os jogos para ganhar. No fim, faremos as contas.

 

Candidatos à subida? Apontar a títulos ou candidaturas, é claramente prematuro e seria pouco responsável da minha parte, mas uma coisa é certa: entraremos em todos os jogos para ganhar.

 

Derby – Qual é o grande objetivo da Juventude Ouriense para 2022/23?
Xavier Costa – De uma forma global, criar uma equipa de presente, mas de olhos postos no futuro. Criar as bases e ir ajustando o que for necessário para que nos próximos anos a Juventude Ouriense esteja de forma consistente na luta pelo primeiro lugar. Normalmente chamar-se-ia um ano “zero”, mas queremos ser mais ambiciosos, queremos que seja já o ano “um”, em que seremos capazes de apresentar já resultados do trabalho que se vai desenvolver.

 

Derby – Sendo um conhecedor profundo da realidade do futsal distrital, que análise faz à evolução da modalidade no nosso Distrito, em geral, e no Concelho de Ourém, em concreto?

Xavier Costa – O Futsal no distrito podia sinceramente já estar noutro patamar, quer em qualidade, quer em quantidade. Cheguei e os clubes, os treinadores, os jogadores e os árbitros são praticamente os mesmos do que aqueles que estavam quando saí. Os candidatos aos títulos continuam os mesmos. Há que saber atrair mais clubes, mais jogadores e mais árbitros para a modalidade. Continuo a defender que deve ser criada uma segunda divisão, onde as exigências para os clubes sejam muito menores e as taxas de jogo reduzidas. Em suma, uma competição que tire dos pavilhões aqueles grupos de amigos que se juntam semanalmente e os coloque no ambiente federativo. A 1º Divisão Distrital deve ser de facto a antecâmara dos nacionais, onde estejam clubes e projetos com capacidade de abraçar depois esse desafio. O concelho de Ourém continua a ser um oásis nesse sentido, podia praticamente fazer-se um campeonato só de clubes do concelho e este seria na mesma competitivo e atrativo.  Nenhum outro concelho do distrito se pode gabar do mesmo feito.

 

Há que saber atrair mais clubes, mais jogadores e mais árbitros para a modalidade. Continuo a defender que deve ser criada uma segunda divisão

 

Derby – Está igualmente por dentro da realidade do SC Ferreira do Zêzere e também contribuiu para a tremenda evolução do clube ao longo dos últimos anos. O SCFZ é exemplo para todos os clubes de pequena dimensão que sonhem um dia jogar na 1.ª Nacional?
Xavier Costa – O SC Ferreira do Zêzere é o exemplo da “tempestade perfeita” para chegar à primeira divisão. É um conjugar de esforços e vontades de todos aqueles que estavam por dentro do Futsal, mas também da autarquia, do tecido empresarial, dos adeptos e da própria vila. Toda a gente sentiu que era possível o Ferreira do Zêzere chegar à primeira divisão e só esse sentimento e esforço conjunto o permitiu. A “fórmula” é simples, mas é difícil de concretizar, é preciso muito empenho, muito trabalho, investimento, coisas bem feitas, capacidade de resistir ás adversidades que surgem e vão sempre surgir quando se está a falar de um clube de um local de pequena dimensão. Agora saiba também o distrito acarinhar, apoiar e aproveitar este feito. Todos podemos beneficiar!

 

O SC Ferreira do Zêzere é o exemplo da “tempestade perfeita” para chegar à primeira divisão. É um conjugar de esforços e vontades de todos aqueles que estavam por dentro do Futsal, mas também da autarquia, do tecido empresarial, dos adeptos e da própria vila

 

Derby – Já passou por vários clubes, em Portugal e no estrangeiro. Ao nível de estrutura e condições de trabalho, em que patamar colocaria a Juventude Ouriense? É um clube que pode aspirar a uma dimensão nacional?
A Juventude Ouriense, neste momento em termos de condições de trabalho, arrisco-me a dizer que está um patamar acima de todos os outros clubes do distrito. Tem condições e confortos que mais ninguém tem. Pode e deve claramente aspirar a ser um clube de dimensão nacional, mas, para evitar que seja apenas um momento passageiro, terá também que ter uma envolvência e apoio para além das pessoas que compõem o seu departamento de Futsal. Tem que haver uma maior envolvência dos adeptos, da autarquia e do tecido empresarial. Da nossa parte, faremos para que se torne agradável e motivador os adeptos deslocarem-se ao Caneiro para ver os nossos jogos, que gostem daquilo que vêm, que sofram e celebrem connosco. Criar uma sensação de orgulho e pertença. Quando isso acontecer, com as bases que o clube dispõe, parece-me perfeitamente possível.

 

A Juventude Ouriense, neste momento em termos de condições de trabalho, arrisco-me a dizer que está um patamar acima de todos os outros clubes do distrito. Tem condições e confortos que mais ninguém tem

 

Derby – Que recordações guarda da sua experiência nos Emirados Árabes Unidos, tanto a nível profissional como pessoal?
Xavier Costa – Os Emirados foram uma experiência incrível a todos os níveis. Foi uma experiência que me permitiu ser profissional de Futsal e vivenciar uma realidade cultural completamente diferente da portuguesa. Desde que se vá de mentalidade aberta, é uma experiência enriquecedora. No que ao Futsal diz respeito, ainda andam um pouco a “experimentar” aquilo que pretendem para o desporto no país, mas tem vindo a evoluir ao longo dos anos. O único fator negativo foi estar no país no momento em que a pandemia do COVID 19 se tornou mesmo séria. De um momento para o outro, a competição parou, deixámos de poder treinar, ficámos “trancados” em casa e praticamente sem saber o que ia acontecer. Felizmente, eu e os dois atletas portugueses que estavam lá comigo conseguimos apanhar um dos últimos voos em direção à Europa, antes do fecho total dos aeroportos e regressar para junto das nossas famílias.

Derby – Chega a Ourém vindo do Luxemburgo. Em que é que essa experiência o tornou mais forte, enquanto treinador?
Xavier Costa – O Luxemburgo foi uma experiência interessante, mas em que o Futsal tem duas realidades completamente distintas. Existem dois a três clubes com mentalidade e investimento para estar na luta pelo título, depois mais dois ou três numa realidade intermédia e o resto é completamente amador. É um país com condições financeiras geográficas e financeiras ímpares, mas o Futsal praticamente não existe para a Federação. Enquanto a parte diretiva/organizativa não se profissionalizar na forma como trata o Futsal, não será mais do que já é habitualmente. O que é uma pena enorme…!

Para mim concretamente, foi excelente para testar alguns dos meus conceitos, da minha abordagem e da minha forma de trabalhar. Percebi que algumas coisas e alguns métodos resultam em qualquer ambiente e em qualquer grau de exigência. Encontrei desafios diferentes que me fizeram evoluir e infelizmente outros que já conhecia da realidade distrital e que não estava à espera de encontrar numa 1ª divisão.

No fundo, saio do Luxemburgo um treinador mais “afinado” em relação aquilo que faço.

Derby – Complete a frase: as equipas do Mister Xavier Costa caracterizam-se por…
Xavier Costa – Serem equipas agressivas, sempre com o olhar colocado na baliza adversária, em que os jogadores são obrigados constantemente a pensar e a interpretar o Futsal. Será sempre mais normal acontecer um 8-6 do que um 2-0.

 Como nota de rodapé, não me queria despedir desta pequena entrevista sem enaltecer também o trabalho do Derby de Ourém. Projetos destes são fundamentais para o crescimento do desporto a nível local e regional, pois são também eles que dão destaque aos praticantes que de outra forma dificilmente o teriam. Continuação do excelente trabalho, da minha parte e sei que falo pela Juventude Ouriense, a porta está sempre aberta para qualquer tipo de colaboração.

As minhas equipas são agressivas, sempre com o olhar colocado na baliza adversária, em que os jogadores são obrigados constantemente a pensar e a interpretar o Futsal. Será sempre mais normal acontecer um 8-6 do que um 2-0.

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