Mosquitos por cordas, nervos à flor da pele. O Derby de Ourém entre Vasco da Gama e Atlético Ouriense foi tudo menos previsível. Foi um carrossel de emoções, com final impróprio para cardíacos. A formação da casa esteve a minutos de celebrar a primeira vitória da temporada, mas quem saiu em festa foram os visitantes. Pelo meio, houve dois vermelhos (bem) decididos e um penálti (mal) assinalado
O Atlético entrou bem no jogo, mas o Vasco da Gama tão depressa equilibrou como… desequilibrou. O capitão Vicente subiu ao terceiro andar e mostrou cabeça para o golo, surpreendendo Manuel Sousa com um golpe perfeito, na sequência de uma bola parada.
Corria o minuto 19 quando o Vasco da Gama se adiantou e a formação de Boleiros-Maxieira alimentou o sonho da primeira vitória durante outros 70. E não foi por falta de oportunidades para matar o jogo, ou pelo menos dilatar a vantagem. António Vaz esteve à beira do golo da jornada, rematando de fora da área com a bola a rasar o poste, pouco depois do 1-0.
Não muito longe dali, Manuel Sousa e Dino evitaram outro golo do Vasco da Gama: o guardião fez a mancha e travou um remate de João Leitão, enquanto o capitão ofereceu o corpo à bola para negar a recarga de Afonso Reis.
A perder ao intervalo, Pedro Gil Vieira não foi de modas e apostou numa tripla alteração: Salvador, Dylan e Gameiro renderam Frazão, Mamadu e João Vieira. O Atlético não demorou a mostrar serviço, claramente impulsionado pela propensão atacante de Gameiro.
O goleador do Ouriense teve o empate nos pés, logo nos primeiros instantes da 2.ª parte. E só não marcou logo ali porque Ricardo Henriques saiu da baliza e deu (literalmente) o peito à bola, mantendo o Vasco da Gama em vantagem.
Gameiro estava em brasa e atirou por cima pouco depois. Sol de pouca dura… O avançado acabou expulso com vermelho direto, apenas 10 minutos depois de ter entrado. Na sequência de uma falta assinalada a favor da sua equipa, Gameiro acabou ‘amarelado’ pelo árbitro João Perdigão.
O camisola 17 não se conteve: segundo o juiz, exagerou nos modos e no conteúdo… e acabou expulso, perante a incredulidade dos próprios colegas de equipa, obrigados a esforço extra para compensar uma atitude irrefletida de um companheiro que tantas vezes lhes salvou a pele.
Em vantagem no marcador e agora também em superioridade numérica, o Vasco da Gama parecia ter descoberto finalmente o caminho da vitória. Mas foi o Atlético a criar perigo, logo após a expulsão de Gameiro. Primeiro, Alex Mondlane apanhou-se em posição privilegiada, mas chutou nas orelhas da bola; depois, Lucas Marques chutou forte mas (pouco) ao lado da base do poste direito.
O Atlético esticou a manta e o Vasco nunca se ficou. Pelo contrário, a formação da casa recusou estacionar o autocarro, mostrando sempre muito mais interesse em atacar a baliza contrária do que em defender o seu reduto. A estratégia quase deu frutos: Afonso Reis ficou muito perto do golo, quando se isolou e ultrapassou Manuel Sousa, embora o choque com o guardião lhe tenha causado irremediável desequilíbrio, que Diogo Alves aproveitou com uma dobra salvadora.
O tempo corria a favor do Vasco, as oportunidades sucediam-se mas a bola não entrava. Com um remate colocado, David Anjos obrigou Manuel Sousa a uma defesa dos diabos. Miguel Santos também andou perto do golo, depois de ter ganho o flanco a Diogo Alves, valendo outra mancha do guarda-redes do Atlético a manter o resultado em aberto.
Quem não marca… sofre. O Vasco não conseguiu matar o jogo e acabou por morrer na praia, com contornos de crueldade. Sobretudo pela forma como o Atlético Ouriense chegou ao empate. Na sequência de um remate de Lucas, Ricardo Henriques defende mas não consegue segurar a bola, que sobra para o espaço vazio, onde João Guerreiro acaba por se embrulhar com o guarda-redes do Vasco e com Tiago Vicente.
João Perdigão assinalou penálti para o Atlético, provocando uma verdadeira crise de nervos nos jogadores da casa. Ricardo e Vicente tentaram demover o árbitro, garantindo que a falta fora assinalada ao contrário, uma vez que foi João Guerreiro quem entrou no lance a pés juntos.
Sem recurso a VAR ou a qualquer outro instrumento que o valha, prevaleceu a decisão soberana do árbitro. Chamado à responsabilidade, Dino Martins não facilitou, rematando forte e colocado para desviar ao máximo a bola de uma guarda-redes especialista neste tipo de lances, que não defendeu este… por uma unha negra.
O Vasco da Gama acusou o toque, perdeu o controlo emocional… e o jogo também. Com João Perdigão a controlar o cronómetro para dar o jogo por concluído, Ricardo Henriques amarrou uma bola despejada na sua área e tentou lançar o último ataque da sua equipa. Só que o tiro saiu pela culatra…
João Guerreiro estorvou a ação do guarda-redes e este respondeu com um pontapé nas pernas do avançado do Atlético. Por sorte, foi fora da área; por azar, o livre direto resultou no golo da vitória. Os jogadores do Vasco ainda alertaram o árbitro para o facto de ter sido o avançado o primeiro a fazer falta, mas no entendimento do trio de juízes, Ricardo já tinha largado a bola antes de ser condicionado pela ação do adversário.
Ricardo Henriques acabou expulso com cartão vermelho direto, obrigando a solução de recurso: João Paulo trocou o meio campo pela baliza, calçou as luvas… mas ficou naturalmente pregado ao chão, impotente para travar o remate de Lucas Marques.
Confiante nas suas capacidades, o camisola 11 do Ouriense ‘roubou’ a bola ao capitão Dino e assumiu a cobrança, levando ao delírio as dezenas de adeptos que foram ao Parque de Jogos de Boleiros-Maxieira apoiar o Atlético.
Pior ficaram as centenas de adeptos do Vasco da Gama, que nunca regatearam apoio aos seus jogadores, nem mesmo depois do jogo. Pelo contrário, souberam reconhecer a atitude e o carácter de uma equipa que não abdica da sua identidade. Não estaciona autocarros porque privilegia um futebol positivo, por muitos pontos que esta filosofia custe a estes oureenses.
Apesar de ser um castigo (demasiado) cruel para o Vasco da Gama, o resultado acaba por premiar o Atlético Ouriense, sobretudo porque os visitantes nunca desistiram de lutar pelo(s) ponto(s), não obstante a desinspiração patenteada ao longo de grande parte do jogo.
O Vasco da Gama segue de lanterna vermelha na mão, com apenas 1 ponto. O Atlético subiu acima da linha de água, ultrapassando o Forense para se fixar naquela posição que poderá resultar em descida se o União de Santarém e/ou União de Tomar forem despromovidos do Campeonato de Portugal.
Também nesta jornada, o Centro Desportivo de Fátima empatou sem golos em Samora Correia, seguindo agora no 3.º lugar, a 2 pontos do Abrantes e Benfica e a 3 do Ferreira do Zêzere, que continua a liderar o Campeonato Distrital da 1.ª Divisão.