Sangue, suor e lágrimas! O Grupo Desportivo da Ribeira do Fárrio conquistou a Taça Distrital, à força de um triunfo cabal sobre o Vitória Clube de Santarém, numa goleada de mão cheia sobre um adversário superior em teoria mas sem argumentos na prática.
Diz o ditado que “elas contam é lá dentro”. E também nisso o GRUDER foi implacável: 5-0, num verdadeiro hino à modalidade. Os comandados de Jorge Xana aplicaram cada um dos conceitos precursores do futsal, defendendo com rigor e atacando com precisão.
Limpinho, limpinho. O triunfo não merece qualquer discussão, mas os contornos foram épicos. É que a goleada pode ter sido expressiva, mas esta final foi tudo menos fácil. O Vitória de Santarém lutou como pôde e discutiu o resultado até ao momento em que um dos seus deitou tudo a perder.
Adrian Pereira foi expulso num momento-chave e o GRUDER meteu a mão na Taça, para delírio da febre amarela, aquela multidão de oureenses (e não só) que ajudou a colorir um pavilhão a rebentar pelas costuras.
Vamos a factos: o GRUDER foi a primeira equipa a cheirar o golo, criando a primeira oportunidade efetiva aos 5 minutos. Fábio Moleiro esteve perto de abrir o ativo e só não marcou logo ali porque Diogo Delgado baixou a espargata e travou a bola com a perna direita sobre a linha.
O Vitória respondeu na transição, com Adrian Pereira a atirar cruzado, levando a bola a rasar a base do poste esquerdo dos oureenses. Reposição feita, GRUDER na frente e Moleiro a repetir a ameaça: o capitão fez gato-sapato da defensiva rival, tirou o guarda-redes da frente e só não festejou porque Peitaço meteu o pé direito à bola… outra vez em cima da linha de golo.
Adrian tirou o lance a papel químico, avançou sobre os oureenses e tornou a rematar cruzado, levando a bola a passar pertíssimo do poste esquerdo de Miguel Antunes.
Num minuto, duas oportunidades flagrantes para cada lado. Cheirava a golo? Aí está ele: Leo Moço conduzia um ataque vitoriano, à entrada da área oureense, quando Luís Martinho soltou o polvo, roubou a bola e fugiu para o golo.
O camisola 33 do GRUDER surgiu nas costas do adversário, sacou a bola de carrinho, deu-lhe dois toques e um bico de canhota via túnel por entre as pernas do guardião, num golo que deixou os adeptos de olhos em bico, não fosse ele… o Chinês.
O golo tranquilizou a turma da Ribeira do Fárrio, na mesma medida em que soltou os fantasmas sobre a formação de Santarém. Ainda atordoada pelos acontecimentos da grande bronca, e agora em desvantagem nesta final, mais intranquila ficou quando Luís Pedro fez estoirar uma bomba na trave.
Corria o minuto 14 e só foi preciso esperar mais 2 para perceber que o GRUDER estava bem capaz de ganhar o jogo. Atento, Miguel Antunes recolheu uma bola perdida e lançou Carvalho na frente. O pivot alçou a perna, segurou a bola, contornou o guardião mas caiu em posição difícil, atirando à malha lateral.
Em vantagem e consciente da sua missão, o GRUDER cedeu a iniciativa de jogo ao Vitória, mas aproveitou cada erro alheio para levar o pânico à área contrária. Com maior eficácia e uma pontinha de sorte, estes oureenses já estariam a vencer por 3-0… aos 15 minutos.
O Vitória só criou perigo evidente no último minuto da 1.ª parte. E aí sim, foi a doer. Que o diga Miguel Antunes. Faltavam 24 segundos quando Jota fuzilou o guardião oureense, que evitou o empate sacrificando as partes baixas, numa daquelas intervenções que garantem títulos… mas colocam em causa gerações vindouras.
Mal refeito, Miguel voltou a sofrer: a quatro segundos da buzina, o guarda-redes foi ao chão meter as mãos e a cabeça onde Bernardo Garcia impôs o pé. Resultado? Nariz lavado em sangue mas GRUDER na frente do marcador!
Prontamente assistido por Luís Carlos Gomes, diretor do GRUDER com formação em socorrismo, mas também pelo enfermeiro Pedro Malaca, do Vitória de Santarém, Miguel Antunes foi encaminhado para o balneário, cedendo a baliza a Rafael Marques.
Em 4 segundos apenas se escreve a palavra trave. Diogo Madeira atrasou o canto para Jota, que disparou forte para a barra do GRUDER. Já era a sorte a proteger os audazes…
O intervalo serviu que nem uma luva aos oureenses, que tiveram tempo para recuperar Miguel Antunes, rever estratégias e atacar a 2.ª parte com ainda maior disposição.
O GRUDER não se limitou a defender e por isso marcou logo aos 6 minutos da 2.ª parte, naquele que foi o momento-chave desta final: Luís Pedro roubou a bola a Adrian, voou sobre Bernardo Bernardino e correu para a cara de Delgado, que susteve o primeiro remate, mas não evitou a recarga para 2-0.
Pior para o Vitória: enquanto o GRUDER festejava o golo, Adrian reclamava tanto que acabava… expulso da partida.
Há 13 minutos e 2 segundos para jogar. Os oureenses vencem por 2-0 e jogam momentaneamente contra 4. Xana entende este como o momento certo para matar o jogo. O treinador grita, esbraceja, vocifera a partir do banco. Faz de tudo para lançar a equipa na frente. E esta responde da melhor forma.
Mico, Moleiro e Chinês embalam o adversário no carrossel e deixam Luís Pedro na cara do golo. Receção, finta sobre o guarda-redes e 3-0 no placard, com 27 minutos jogados. A febre amarela é contagiante e o troféu já não escapa.
Mister João Correia lança o Vitória num 5×4, mas é sempre o GRUDER que fica mais perto de voltar a marcar. Há uma pausa técnica que Jorge Xana aproveita para lançar um aviso à navegação. Está quase, mas ainda faltam 12 minutos, essa verdadeira eternidade na modalidade do ataque e contra-ataque.
Só que o GRUDER não estava para brincadeiras, nem facilitismos. Jorge Pinto aproveitou um deslize contrário para ligar o Peugeot e acelerar para a festa: 4-0 aos 31 minutos.
Se a Taça já estava perto, Luís Pedro logo lhe meteu as mãos. A 4 minutos dos 40, o camisola 7 do GRUDER fez de conta que estava em casa (e estava mesmo), completando o hat-trick, isolado pela mão direita de Miguel Antunes e perante a (pouca) resistência do guarda-redes avançado.
O Vitória de Santarém bateu-se com galhardia, mas o GRUDER foi verdadeiramente intratável. Mais experiente, rigorosa a defender, cirúrgica a atacar e com nervos de aço, a formação de Jorge Xana escreveu mais um dia histórico para o desporto oureense, sagrando-se vencedor da Taça Distrital de 2022/23.
O Grupo Desportivo da Ribeira do Fárrio foi mais forte na maioria dos 40 minutos, rigorosamente cronometrados pelo oureense Nélson Faria, um dos quatro elementos da equipa de arbitragem liderada por Fábio Carapuça, que é também atleta dos igualmente oureenses do Ama(dores) Trail Team. Luís Oliveira (2.º árbitro) e André Martins (3.º) completaram o quarteto de juízes nomeados pela Associação de Futebol de Santarém.
A final da Taça Distrital resultou num verdadeiro hino à modalidade, com três equipas a demonstrarem que a modalidade é muito mais do que os tristes exemplos recentes.
Os adeptos agradecem… e contribuem! A festa foi bonita, pintada de amarelo e azul, com o Municipal de Ferreira do Zêzere à pinha, respirando alegria e fair-play entre todos. Chapeau!