Ana Reis foi eleita presidente da direção a 25 de julho de 2022, mas tem um longo passado ao serviço do Vasco da Gama © CMO 

A Associação Desportiva Recreativa Cultural Vasco da Gama celebra hoje o seu 42.º aniversário. Fundada a 20 de fevereiro de 1981, esta instituição teve o condão de unir duas aldeias: Boleiros e Maxieira mudaram para sempre, graças à ideia de dois portugueses radicados no Brasil.

Apaixonados pelo Vasco da Gama do Rio de Janeiro, reeditaram a versão oureense daquele emblema carioca, mas em plena Freguesia de Fátima. Quatro décadas depois, o Vasco da Gama de Boleiros-Maxieira é um clube projetado para o futuro, com história escrita a letras douradas, sendo ainda o único emblema do Concelho de Ourém com uma Taça do Ribatejo na vitrine, graças à sensacional conquista de 1989.

Em dia de aniversário, o Derby marca a efeméride com uma entrevista à presidente da direção do clube. Um exclusivo Derby, para ler aqui, na íntegra.


Derby – À data de hoje, como é atualidade do clube? Que modalidades tem?  O que é que lhe dá vida?
ANA REIS – Temos boccia e futebol, sendo que no futebol temos os escalões de formação e as equipas seniores, tanto no feminino como no masculino. Gostávamos de recuperar a atividade cultural que tínhamos há alguns anos. Já tivemos teatro e outras atividades, mas está tudo parado porque ainda não tivemos tempo para dinamizar essa parte como gostaríamos.

Derby – Mesmo tendo apenas boccia e futebol, não deixa de ter uma agenda preenchida…
ANA REIS – É verdade, sim. Mas se cada um de nós cumprir a sua função, conseguimos fazer muita coisa. São as associações que dinamizam as aldeias. É um escape que as pessoas têm, para conviverem, fazerem outras atividades, além da rotina casa-trabalho-trabalho-casa. A função das associações é mesmo essa. Nem toda a gente aprecia bola, mas a cultura toda a gente aprecia. Teatro, outras atividades, outras dinâmicas, se calhar toda a gente gosta… Só que não temos tido tempo.

Derby – É algo que ponderam relançar ainda durante este ano?
ANA REIS – Gostávamos, mas primeiro temos de reativar os sócios. Vamos fazer um ajustamento e uma atualização. Depois, sim, queremos ir por aí e dinamizar a área cultural do nosso clube.

Derby – Quantos praticantes tem o Vasco da Gama?
ANA REIS – Contando com o Boccia, cerca de 250.

Derby – Fale-nos sobre essa modalidade…
ANA REIS – Temos uma equipa composta pelos nossos seniores. Estamos a falar de pessoas com 60, 70, 80 anos. É uma atividade muito boa porque tira as pessoas de casa. Dá-lhes um objetivo e uma rotina de aulas às terças e quintas-feiras, às 9 da manhã. Participam em torneios, vão nas nossas carrinhas, almoçam por lá. São convívios muito saudades, até porque permite exercitar o próprio cérebro de cada um, através da estratégia do jogo. E também tem a componente física, claro. São convívios realmente importantes, até porque a solidão mata…

A secção de boccia do Vasco da Gama apresenta-se como um verdadeiro serviço público à comunidade

Derby – O futebol continua a ser a cara do clube.
ANA REIS – É verdade, mas houve uma mudança que importa sublinhar: quando cheguei ao clube, em 2015, tínhamos cerca de 70 atletas e um campo pelado. O Vasco da Gama era como uma segunda escolha. A partir daí, foram feitos investimentos na melhoria das infraestruturas. Hoje em dia já não somos a segunda escolha. Já somos a primeira opção para muitos atletas.

Derby – O Vasco da Gama tornou-se num clube apetecível?
ANA REIS – Estamos em pé de igualdade com outros clubes aqui à volta. A nossa desvantagem é estarmos num meio rural, enquanto os outros estão num meio citadino. Temos, por isso, o desgaste provocado pelos transportes. Mas como somos uma família, as pessoas gostam muito de aqui estar connosco. Há uma harmonia entre jogadores, treinadores, diretores e famílias dos nossos atletas. Aliás, este bom ambiente reflete-se em casa das pessoas. Temos aqui um grande ambiente, que resulta muito do bom trabalho que é feito pelo nosso coordenador, o Hugo Almeida. Ele é o braço direito da direção, coordena todo o futebol feminino e masculino, desde a formação aos seniores.

Derby – Apontou a localização do Vasco da Gama como uma desvantagem. Mas estar num meio rural e apresentar os bons resultados que apresentam, não valoriza ainda mais o trabalho que desenvolvem?
ANA REIS – Acho que trabalhamos bem, sim. Aliás, a prova disso é que os outros clubes andam sempre a tentar tirar daqui atletas. Mas é difícil que eles queiram sair daqui porque sentem-se muito bem connosco. Temos competição e temos formação, mas os pais dos nossos atletas sabem perfeitamente que nem todos podem ser o próximo Cristiano Ronaldo. Investimos muito em treinadores de qualidade. Aliás, todos os nossos treinadores têm o Nível 2 e todos são professores. Isso reflete-se no trabalho que é feito junto das nossas crianças e dos nossos jovens. Atenção: não estou a dizer que os treinadores dos outros clubes não têm qualidade. Estou a falar apenas dos nossos. Fazemos um esforço financeiro para corresponder a este objetivo. Acho que não pagamos mal. E pagamos sempre a horas. Aliás, hoje é dia 20 de fevereiro e já todos receberam. O mês de fevereiro está pago, atenção. É um incentivo. Temos um grupo de treinadores muito bom.

Derby – É exagerado considerar que o Vasco da Gama vive o seu melhor momento, do ponto de vista das infraestruturas e dos resultados desportivos?
ANA REIS – É exagerado, sim! As direções anteriores também fizeram trabalhos meritórios e muito bons. É verdade que o Vasco da Gama nunca teve tantos atletas quantos os que tem hoje, mas também é verdade que este clube já viveu momentos muito bons no final dos anos 80, princípio dos anos 90. A diferença é que só tínhamos a equipa sénior. As realidades não são comparáveis. Se os colegas que me antecederam tivessem as infraestruturas que temos hoje, se calhar também tinham feito o trabalho que eu estou a fazer agora. Todos temos o nosso valor. Se eu fiz isto ou aquilo, foi porque as direções anteriores conseguiram manter o clube em atividade. Quando fui à Câmara Municipal pedir pelo relvado sintético, nunca nos tinham ajudado financeiramente, se não tivéssemos toda esta atividade. Há que dar valor às direções anteriores, que conseguiram manter o clube em atividade, sempre com as equipas bem completas. Nem sei onde conseguiam ir buscar tantos miúdos, tendo nós o único campo pelado aqui da zona. Dou todo o mérito às direções anteriores, que lutaram contra grandes dificuldades. Logicamente, também tenho as minhas dificuldades. As direções anteriores, batiam-se com o problema das infraestruturas; as minhas dificuldades, são financeiras. O clube tem uma situação estável, mas os orçamentos de antigamente não são os orçamentos que temos agora. Antes, os miúdos jogavam aqui de borla e os treinadores faziam o seu voluntariado; agora, os atletas pagam mensalidade e o clube tem de lhes oferecer treinadores de qualidade.

Ana Reis com o presidente da Câmara Municipal de Ourém, Luís Albuquerque, durante uma visita do autarca às instalações do clube

Derby – A temporada desportiva está a ser positiva.
ANA REIS – Sim, sem dúvida! A equipa sénior masculina joga com prata da casa. Em 25 atletas, temos 19 da nossa formação. É um grupo muito jovem. Costumo dizer que só temos ali um que nos estraga a média: o André do Talho, com os seus 42 anos [gargalhada]. Estão a fazer um trabalho fantástico, que se deve muito à equipa técnica. O Tiago Silva é ótimo e faz um trabalho muito bom com os nossos miúdos. Além dos seniores, também treina os juniores. Essa equipa é maioritariamente composta por elementos que estavam nos juvenis e que nos deram muitos problemas. Agora estão a trabalhar muito bem, pelo que tem tudo a ver com a liderança do treinador.

Derby – E depois temos a aposta efetiva no futebol sénior feminino. Apesar de já não estar em condições de lutar pela subida à 2.ª Divisão Nacional, não deixa de ser um trabalho muito positivo.
ANA REIS – Olhe, foi por 45 minutos… Foi uma pena. É a época de estreia no futebol sénior e é muito difícil trabalhar com o sector feminino porque há poucas atletas. O recrutamento é muito difícil, as jogadoras querem sempre dinheiro porque acabam por abdicar dos trabalhos de fim de semana que poderia ter… Só que nós dissemos sempre que não pagamos a ninguém. Claro que damos uma compensação quando uma atleta tem de fazer deslocações maiores, mas apenas isso. E não tem sido fácil. Nem tem tanto a ver com a parte financeira. E temos as Sub-19 a fazer um excelente campeonato! Vamos ver se conseguimos atingir o Apuramento de Campeão. Na época passada, as nossas Sub-15 foram à final nacional. Estamos com muita qualidade na formação feminina e foi por isso mesmo que decidimos avançar com uma equipa sénior.

Derby – Segunda-feira, 21 de fevereiro. O Vasco da Gama está de parabéns. Como é que vai ser a festa?
ANA REIS – Vai ser muito giro! Como calha aqui no meio do Carnaval, não dá para fazer uma cerimónia muito formal. Vai ser mais uma brincadeira. Vamos fazer umas atividades com os miúdos durante a tarde, vamos ter sopas e bifanas, às 10 da noite cantamos os parabéns ao clube e depois temos um DJ para animar a festa pela noite dentro.

Derby – A fechar, convidamos a presidente Ana Reis a assinalar o aniversário do Vasco da Gama com uma mensagem a todas as pessoas que simpatizam com esta associação histórica do Concelho de Ourém.
ANA REIS – O crescimento nasce do querer, da determinação e persistência que ao longo destes anos foi sempre o objetivo de todos o que por aqui passaram. A vitalidade do clube é demonstrada pelo trabalho que desenvolvemos atualmente. Continuidade do nosso processo de aprendizagem e capacidade de nos adaptarmos à mudança, é o que desejo para o futuro do clube.

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