“A felicidade de quem não tem tido um caminho fácil mas tem tido as melhores recompensas” Foto ADAL ©

“A felicidade de quem não tem tido um caminho fácil mas tem tido as melhores recompensas”. A legenda da foto é da autoria da própria. Há imagens que valem por mil palavras, mas também há legendas que arrepiam só de ler. Sente a pele de galinha? Segure-se.

Joana Pontes abre o coração ao Derby para recordar um momento que lhe ficará eternamente tatuado na alma.

Sem papas na língua, a recém-sagrada Campeã Nacional de Esperanças em marcha atlética, recorda a dureza das semanas que antecederam a competição, assume que não conseguiu treinar tanto quanto devia, mas lembra que estava em causa um bem maior: concluir a licenciatura para garantir o seu próprio futuro.

“Porque um título nacional é sempre um título nacional”, Joana Pontes faz um “balanço positivo” da sua participação no Campeonato Nacional de Esperanças, não obstante o facto de não se ter apresentado no pico de forma.

“Quanto a sensações, ainda não estava da maneira que eu desejava estar… Foi o meu último ano de licenciatura, este último semestre foi bastante complicado, mas fiz o possível para conciliar. Houve semanas de muito cansaço, tentei recuperar-me da melhor maneira possível para conseguir estar no meu melhor nível nestes campeonatos. Não estava com as sensações que eu queria, mas foi o suficiente para ganhar e, portanto, foi positivo”, considera, em declarações exclusivas ao nosso jornal.

Foi o meu último ano de licenciatura, este último semestre foi bastante complicado, mas fiz o possível para conciliar. Houve semanas de muito cansaço, tentei recuperar-me da melhor maneira possível para conseguir estar no meu melhor nível nestes campeonatos

A internacional portuguesa sublinha a felicidade de se poder despedir do escalão na condição da campeã nacional. “É o meu último ano como Sub-23. Não há mais campeonatos nacionais de esperanças para mim, então foi bastante importante. Era o meu objetivo principal, claro que queremos sempre marcas nesses campeonatos, mas nem sempre é possível…”

Aos 22 anos, Joana Pontes ostenta um palmarés invejável, somando vários títulos individuais, maioritariamente na marcha atlética, tanto em pista como na estrada. As conquistas desportivas sucedem-se, mas não são as únicas provas de superação e talento desta oureense…

“Licenciada e campeã nacional!”
No final do último semestre do ano letivo que agora terminou, Joana Pontes colocou a cereja no topo do bolo, priorizando a formação académica, com a espantosa proeza de não prejudicar os resultados desportivos. Parece fácil, mas não foi…

“Foram realmente as semanas mais complicadas ao nível do cansaço, com menos treino e ainda menos descanso. Tudo isto afetou bastante o meu rendimento, mas estou muito orgulhosa de ser já ser licenciada. Sou oficialmente fisioterapeuta, pelo que temos sempre de ver as coisas pelo lado positivo. Isto é muito positivo”, sublinha.

“Apesar de todo o esforço, da dureza destas semanas desafiantes, das dificuldades para conseguir conciliar todas as coisas, acabou por ser ainda especial colher os frutos de todo este trabalho: sou licenciada e sou campeã nacional! Por tudo isto, foi muito especial!”

Foram realmente as semanas mais complicadas ao nível do cansaço, com menos treino e ainda menos descanso. Tudo isto afetou bastante o meu rendimento, mas estou muito orgulhosa de ser já ser licenciada. Sou oficialmente fisioterapeuta

 

A família Pontes celebrou recentemente uma das suas maiores conquistas: a licenciatura de Joana

 

Do inferno da Cumeada aos céus de Leiria
Como se fosse pouco preparar uma participação num Campeonato Nacional numa fase decisiva do seu percurso académico, Joana Pontes desceu ao inferno dos incêndios que assolaram o nosso Concelho, não fosse ela natural da Cumeada, epicentro de lavaredas de repercussões catastróficas.

“A minha aldeia estava ameaçada, a aldeia dos meus avós também, por causa dos incêndios. Eu sabia que o meu pai estava super cansado, e mesmo assim fez o esforço de ir ver a minha prova, mesmo não tendo descansado durante duas ou três noites seguidas. Saber que ele estava ali a ver-me e lembrar-me de todo o sacrifício que fez para estar ali, deu-me ainda mais forças para também eu fazer esse sacrifício por ele… e ganhar”, assume.

“A minha aldeia estava ameaçada, a aldeia dos meus avós também, por causa dos incêndios […] Saber que o meu pai estava ali a ver-me e lembrar-me de todo o sacrifício que fez, deu-me ainda mais forças para também eu fazer esse sacrifício por ele… e ganhar”

Paulo Pontes, pai de Joana, é o rosto não-visível do sucesso da campeã nacional. É o  principal foco de treino e motivação, da atleta do Leiria Marcha Atlética, um exemplo de superação que a atleta cravou bem fundo no coração.

A dedicatória não espanta. Assenta que nem uma luva num homem apaixonado pela sua terra ao ponto de sacrificar a sua própria vida, alistando-se naquele verdadeiro exército de civis que combateram o fogo de mãos dadas com os soldados da paz. Ou mesmo na ausência dos mesmos…

“Foi muito especial poder deixá-los orgulhosos, depois daqueles dias tão difíceis, durante os quais também eu sofri por estar à distância e a saber que eles estavam em risco e a sofrer com os incêndios”, relata Joana Pontes, uma oureense recém-sagrada Campeã Nacional de Esperanças na marcha atlética.

Tal pai, tal filha… ou vice-versa. Paulo é o maior suporte de Joana e a paixão pelo atletismo transmitiu-se de geração para geração
O flagelo dos incêndios esventrou a Cumeada, terra natal de Joana Pontes, agora mergulhada numa imensidão de terra queimada | Foto João Vieira ©
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